Reflexão: Teoria do Eterno Retorno

“E se, um dia ou uma noite, um demónio se esgueirasse na tua mais solitária solidão e te dissesse: «Nesta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande na tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!». Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demónio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: «Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!» Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse a pergunta diante de tudo e de cada coisa: «Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?» pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?”

Friedrich Nietzsche, “A Gaia Ciência”

39 thoughts on “Reflexão: Teoria do Eterno Retorno

  1. Também gostei desta reflexão. Mexeu comigo. Se eu viveria tudo novamente na mesma ordem, com cada dor e alegria? Sim! Mas, desde que na próxima vida eu não tivesse lembranças do que já aconteceu e nem saber o que iria acontecer. Pois, as alegrias foram muitas, mas as dores da perda foram fortes.. Mas, sim, se eu precisasse viver tudo novamente, eu viveria..

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    • Compreendo. Eu também não me importaria. Mas saber o que iria acontecer…seria terrível.
      Mas eu leio este texto apenas com o intuito de reflectir se estou a viver da forma que gostaria ou se estou a perder algo pelo caminho. Às vezes damos demasiada importância a coisas que não a têm. E se não me importaria de passar por tudo, face aos meus erros e às minhas atitudes diárias.Ou se teria de mudar algo, resolver algo, para tornar esta estadia na terra mais feliz. 😀
      Beijocas*

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    • É verdade. Mas é uma reflexão pessoal que me parece importante fazer: estou a viver a minha vida? Ou o que tenho de mudar para ela se tornar em algo que eu desejaria repetir. Não acredito que vá repetir-se, mas acredito que as boas memórias são a maior delicia da nossa existência. 😀

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      • pepezinhaaa,
        Essa reflexão pessoal é o mais importante.
        A vida é uma adaptação permanente e depende de inúmeros factores,até da sorte de cada um de nós.
        Todos temos boas e más memórias e esse tal balanço – só no fim do campeonato !
        Voltar a repetir sem poder alterar nada, teria para mim, pouco interesse.
        Embora existam sempre óptimas memórias em todos nós.( surpresas ,momentos especiais,etc )
        Não concordas ?

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  2. Um regresso do António à Calçada ?
    POSTED ON 26/12/2014 BY BCARMO42
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    Vamos falar com o “BomMónio” , Fazer acordo em reunião , E aproveitar a ocasião , Temos de mudar alguns assuntos , Para o “Inverno” vão defuntos , Que podiam regressar à vida , Ter uma idade mais comprida , Vai chamar o Doutor António , Ele vai Portugal endireitar , Em São Bento terá de espreitar , Com um novo Único Partido , Fazer um Parlamento unido , Com fascistas e socialistas , Muitas destas Leis serão revistas , Se ele à Calçada voltasse , Talvez a pobreza acabasse .

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  3. Friedrich Nietzsche, filósofo do niilismo, da morte de ‘deus’, contra os complexos systemas filosófico, principalmente contra os de Kant. Este texto é para refletir sobre os ciclos repetitivos da existência no planeta “Gaia” (Gaia é a deusa grega – personificação do planeta terra). Nietzsche questiona a ordem estabelecida das coisas, da moral, dos sistemas que os homens criaram, da religião e da vida pessoal.

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    • Bem verdade. Mas olhando para este excerto em separado, é interessante pensar que posição eu teria no futuro, Se hoje em diante iria ter a mesma atitude perante as situações ou iria tentar mudar alguma coisa, fazer algo diferente…

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  4. Parece uma loucura, um sonho, utopia, quem diria, mas pode vir a ser real o relato feito e digo isso até meio sem jeito, mas quem aqui no espaço já não passou ou se apercebeu de um “efeito Déjà vu”?
    Se levarmos a ciência em consideração então e viajarmos nas especulações notórias que se pode aludir, diria sim tudo é possível já que a cada milésimo de instante somos substituídos sim por moléculas cósmicas. Nascemos algo e vamos nos tornando outros “algos” durante nossa existência consenciente.
    Quem já teve a oportunidade de ler sobre o zodíaco de Dendera “denderati” verá que descreve exatamente o que nosso Filosofo declara. 😉

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    • Nuetzsche não acreditava nisso de certeza absoluta. E eu pessoalmente também não acredito. Os déjà vus, na minha opinião, não passam de confusões que o nosso cérebro faz com memórias passadas que estão perdidas algures ou sonhos que tivemos…
      Tenho de tratar de ir ler qualquer coisinha sobre o assunto 😀

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      • Com certeza minha intensão não é dar crença, muito menos a impor e sim tentar aguçar outros olhares. Caminhos existem mil, histórias ancestrais também, cabe-nos apenas ouvi-las, estudá-las e delas tentar retirar algum conceito ou resposta, pois se em nossa época com tanta tecnologia não podemos repetir o feito das construções antigas como as pirâmides, nem sabemos ao certo o que de fato significam e como foram erguidas e o porque de estarem alinhadas as estrelas, creio que uma vista no documentário histórico o OLHO DE HORUS seria interessante.
        Buscar não significa aceitar e sim não balançar cabeças ou criar conceitos definidos, lembre-se eu sou mutante ambulante.
        Eu gosto de por as provas a mesa e saio provando um pouco de cada o que não significa que irei aceitar almoçar naquele banquete, posso após tudo isso voltar ao meu quintal e ao pé de uma bananeira pegar uma banana e saborear com a certeza dessa me agradar.
        Nosso cérebro guarda informações em forma de energia e não somente de vivencia de vida, se pensamos assim podemos acredito eu ir mais longe nas buscas, caso contrário, seremos apenas algo passageiro sem sentido, sem função alguma de porquês, ou seja um grande desperdício da criação.
        Para que tenhamos uma concepção de evolução, necessariamente teremos de crer na passagem de informações não só orais pois estas se transformam e tornam-se folclóricas, mas das chamadas origens naturais, que ensinam a novas geração que o amargo não é agradável ao paladar e por isso rejeitado já que pode ser indigesto ou mesmo venenoso.
        Infelizmente posso afirmar que eu tive, eu tenho experiencias chamadas Déjà vu o que me deixam aflito ao ponto de saber que mesmo tendo essa informação/visão não devo ou não posso interferir.
        verifique aqui mais ou menos o que digo:

        RELÓGIO

        E ainda há um outro já prontinho e delicioso aguardando meu crivo para ser postado, deverá chamar-se “Nossas Dívidas”.
        Enquanto isso viajo, me distraio nas escritas e visões e as somos com tudo que já tenho para minhas comparações.
        Apenas um detalhe antes que me ausente por momento, digo, os sonhos não seriam o início das realizações? Logo se há indícios dos mesmos e separadas as esferas daqueles que sabemos serem influencias emocionais e ambientais, alguns de fato dão-nos os caminhos das pedras e são eles que postos a crença tornam-se obras que antes eram apenas imaginárias, afinal quem sonhou em por uma sonda pousada num cometa? 😉

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      • Tão verdade. Faz-nos bem, para reflectir, comparar as diferentes crenças ao longo dos anos. E quanto às pirâmides há um mistério enorme, sem dúvida, o que é fascinante. Vou ver esse documentário, obrigada pela sugestão 😀

        Vou aguardar para ler “Nossas Dividas” 😀

        “os sonhos não seriam o início das realizações?”
        Sem dúvida, temos de sonhar antes de construir. O Curiosity só chegou a Marte porque alguém sonhou em conhecer os planetas do sistema solar. E o interessante é que os sonhos dos outros podem aguçar a nossa curiosidade também 😀

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  5. Se, um dia ou uma noite, um demónio se esgueirasse na minha mais solitária solidão e me dissesse algo igual… 🙂
    sacudi-o para longe! Tal como tenho estado fazer dia após dia, noite após noite. (e tão dificil que tem sido)
    Obrigado por estares do Outro Lado da Página ou Página a Página, mesmo que em silêncio.
    Isto irá ao lugar! algum irá.
    Obrigado. Feliz 2015

    Nuno Chaves

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    • As coisas vão melhorar, elas melhoram. Pensamento positivo!!! E é um óptimo momento (o final do ano) para imaginar o que poderemos fazer de diferente para melhorar as coisas.
      Espero que 2015 te traga muitas surpresas agradáveis.
      Beijocas Nuno *

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  6. Bem, por um lado isso coloca um peso enorme na mais pequena acção, por outro retira-lho todo – contradiório? talvez. Vejamos, se estivermos a falar dum perpetuar – o que, se o universo realmente for um sistema fechado, não está posto de parte; nada nos garante que o presente é um padrão no presente gerado e a repetir-se no futuro, pode ser somente a repetição dum padrão (eternamente) passado, levando-nos a cair numa noção de “destino puro”, o que tira o peso às decisões e acções individuais – já está tudo estabelecido.
    Quem me garante a mim que não escrevi já estas palavras, neste preciso momento, um número infinito de vezes no passado e no futuro? O Agostinho da Silva numa entrevista explicou muito bem que a noção de liberdade e de destino estão emaranhadas ao colocar a seguinte questão: a figura divina é vista como inteiramente livre, nem ao tempo nem ao espaço se verga. Tem absoluta liberdade, mas terá liberdade ao ponto de, se assim o desejar, deixar de ser livre?

    São questões apaixonantes e, mais que isso, extremamente úteis para perceber um pouco melhor as engrenagens desta nossa experiência humana.

    Bom resto de fim de semana e boas entradas em 2015.
    Cris

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    • Não acho que retire peso nenhum. Mesmo sabendo que se irá repetir, não sabemos se já se repetiu. Só teria vantagem no sentido religioso, porque todos iriam deixar de praticar a religião, por ser em vão. Tirando isso, o peso era descomunal. Porque nós sabemos que uma pequena acção poderá ter imensas consequências. E uma coisa é sofrer essas consequências uma vez, outra coisa é voltar a sofrê-las, quando poderíamos ter evitado da primeira vez – em que tivemos escolha.
      Bom resto de fds
      Beijocas*

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      • Sim, compreendo esse ponto de vista. Se me dissessem, “olha, rapaz, neste momento decides a eternidade”, faz sentido. No entanto, a questão posta dessa forma fica um pouco longínqua do comum dos mortais, porque as ilações desse pensamento tiradas fitam um ideal de perfeição. Isto é, depois de questionado dessa forma violenta, toda a minha acção focar-se-ia em não causar dano a mim nem aos outros, e em, ao mesmo tempo, causar benefício a todos. Simplesmente ainda acho que a perfeição é uma noção humana, mas não tangível a humanos. Como não é humana a perfeição, e segui-la a todo o momento dá em inferno e loucuras várias, antes de passar por isso e ter que repeti-lo eternamente – com a memória de cada repetição; o mais racional seria enfiar uma bala na cabeça e poupar a dita perfeição, e o mundo, ao espectáculo de um ser imperfeito, e em decadência, querer ser o que não é. É uma quetão pouco divina e muito demoníaca porque esse peso não é suportável e é irreversível.
        Prefiro tirar ilações dessa questão recontextualizada na realidade plausível, isto é, no caso de reencarnação pré-formatada, dum infinito dilatar e contrair do universo com determinismo puro, etc.

        Parabéns pelo blog, que continue o sucesso em 2015.

        Cris

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      • Concordo que a perfeição não é humana. Mas se hipoteticamente todas as pessoas do mundo soubessem que todas as suas acções iriam se repetir numa nova vida e que só tinham esta oportunidade para escolher (que a partir desta oportunidade tudo estaria determinado), acredito que a maioria iria fazer mais mal do que bem. Só haveria duas coisas que melhorariam no mundo: deixaria de haver guerras/conflitos religiosos e não haveria bombistas suicidas à espera das 40 virgens no paraíso. De certo, as atitudes seriam mais animalescas, por quererem aproveitar tudo…do género: se morrer daqui a meia dúzia de dias, o importante é ter aproveitado ao máximo o resto dos dias…bebedeiras, mulheres/homens, noite, festa…
        Essa realidade plausível a que te referes, é tão plausível como esta que se pode ler no excerto que estamos a analisar ou como o livre arbítrio ou o céu…

        Muito obrigada pela simpatia 🙂 estou a adorar a troca de ideias. Sucesso para o teu

        Beijocas**

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      • A natureza humana, tão bizarra. Humanidade capaz de, como dizem os Xutos na “Zona Limite”, fazer a guerra em nome da paz, e pior, acreditar piamente na nobreza disso.

        “Essa realidade plausível a que te referes, é tão plausível como esta que se pode ler no excerto que estamos a analisar ou como o livre arbítrio ou o céu…”

        Acredito que tudo é tendencialmente relativo na nossa experiência do mundo, pelo que concordo em absoluto com essa ideia, simplesmente uso a expressão “realidade plausível” para me referir à realidade aparente, ou seja, aquilo que, ainda que de forma ilusória, parecemos todos partilhar do mundo exterior, só isso.
        Pelo que vejo, também deves ser fã do nosso Álvaro de Campos… 😉

        O prazer é todo meu. Obrigado pelos votos.

        Beijo,
        Cris

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      • Tão verdade. Em situações extremas as pessoas perdem toda a moralidade, e um livro que explora isso de uma forma extraordinária é “Ensaio Sobre a Cegueira” de Saramago.

        Entendi o que querias dizer realidade plausível. Mas eu partilho a ideia de que depois de morrermos nada mais acontece, daí tudo o resto ser igualmente plausível para mim 😀 Mas no generalizando, se calhar, esta minha ideia não será a mais comum…

        Sou fã de Álvaro de Campos, é o meu heterónimo preferido de Pessoa 😀

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